11deJulho

tendências, souvenirs, beijos esparcidos aos precipícios dessa coisa rugosa que muitos chamam amor, solilóquios, colóquios, provocações e invectivas, enfim, de tudo um pouco, daquilo que sou

Saturday, October 15, 2005

Sublime e Pós-Modernidade: ponto de partida

É na Grécia Clássica que encontramos a origem da arte ocidental e também da reflexão estética que sempre a acompanhou. Foi uma época em que pontificou o paradigma do Belo, situação que perdurou durante mais de dois milénios. Entrada a Europa na Modernidade, assistimos nos Séculos XVIII e XIX à consolidação irreversível de profundas transformações políticas, económicas e tecnológicas, que, obviamente, também tiveram repercussões no domínio da arte e da estética. A mais saliente é a entrada em jogo do Sublime, resultado não já da harmonia que pautava o Belo, mas fruto do espanto, da tensão e do desequilíbrio. A partir daqui, a arte vai progressivamente transformar em elementos de experiência estética o informe, o feio, o vulgar e o quotidiano, desenvolvendo-se teorias que acompanham e em alguns casos antecipam e fundamentam estes progressos. Por outro lado, as transformações que a arte sofreu não são alheias àquelas que ocorreram ao nível de democratização do seu acesso - dos meios e do público.

O Sublime, porém, não é uma pura invenção da modernidade. A ideia existe germinalmente na cultura clássica e importa resgatar essa história, para fundamentar também a sua validade nos tempos de hoje, supostamente pós-modernos. Fala-se de Pós-Modernismo em dois sentidos. Por um lado, em sentido 'cultural' e amplo, significando a crise das 'ideologias' e dos valores modernos do progresso científico e social. A partir desta decepção, emergiu uma cultura fragmentada de valores locais, ecológicos, étnicos, feministas, etc., novos actores do tecido social, em detrimento do modelo ‘eurofalologocentrico’ dominante.

Outra perspectiva, consideravelmente diferente, é a do uso do termo 'pós-moderno', em sentido 'artístico' estrito: a segunda metade do Século XIX trouxe consigo a modernidade artística que se traduziu na criação das vanguardas; um modelo de constante inovação e subversão artística que viria a apresentar sinais de falência e rejeição cem anos mais tarde. A rotura com o modelo das vanguardas modernas representaria então a 'pós-modernidade' artística - que alguns vêem também como a 'morte da arte'. Esta, traduz, a nosso ver, uma falsa questão, porque não se trata da dissolução da actividade artística, nem das suas funções de denúncia, crítica e intervenção, nem, muito menos, da fruição estética por parte do público. Portanto, o que terá deixado de existir não foi a 'arte', mas porventura apenas uma determinada concepção da arte. Ora, quer a crítica como a estética, não têm que vergar-se a esta profecia de estranhas ressonâncias («a arte morreu»), mas encetar um trabalho sério de recuperação do que a arte é hoje. Isto implica repensar a arte de acordo com o outro axioma da pós-modernidade, no seu sentido cultural lato, prestando, portanto, atenção, à cultura de massas, nas suas vertentes popular e alternativa. Os artistas sempre utilizaram as tecnologias que encontraram ao seu dispor. A electricidade, a imagem projectada, a informática e a electrónica são as novas tecnologias de hoje. E aqui, há que entender a mudança fundamental de perspectiva: não podemos continuar apenas a falar de ‘belas-artes’. As artes do nosso tempo são o cinema, as músicas urbanas amplificadas, a dança como libertação do corpo, etc. É por aqui que deveremos procurar destilar a relação sobre o sublime e a pós-modernidade.

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